Hoje li um post dando dicas para candidatos sobre entrevistas. Eram dicas basicamente a respeito de colocar informações verdadeiras no currículo, não cometer erros de ortografia, cuidar da postura na entrevista, usar roupas adequadas e evitar respostas subjetivas.
Imediatamente comecei a me recordar de um levantamento de perfil que tinha acabado de fazer em um cliente. Levamos mais de 2 horas em uma reunião a respeito da vaga.
Falamos da estratégia da empresa, de seu posicionamento no mercado, dos valores, destaque e diferencial do clima organizacional, cultura, estrutura organizacional, motivos da abertura da vaga, requisitos, atividades da função, comportamentos esperados, comportamentos indesejados, desafios da posição, da carreira que poderia ser oferecida, dos benefícios tangíveis e intangíveis, de quais conhecimentos eram imprescindíveis para o cargo e quais poderiam ser desenvolvidos internamente, quem seriam os pares e stakeholders, o que precisaria ser testado durante o processo seletivo, qual seria o melhor desenho de processo seletivo para identificarmos as principais competências técnico e comportamentais que priorizamos, onde encontraríamos estes profissionais, em quais nichos, enfim, debruçamos na estratégia e melhor operação para o cenário atual.
Obviamente depois de revisitar toda essa conversa com minha cliente, não pude deixar de comparar com a “conversa” com o candidato que o post sugere.
Este post sobre dicas para o processo seletivo me fez imaginar como seria uma conversa com um candidato com o objetivo de ajudá-lo a se sair bem no processo seletivo que desenhei de forma tão criteriosa e profunda…
E meu questionamento é: essas dicas são suficientes para realmente ajudar um candidato? Inevitavelmente a resposta é: claro que não!
Chegar bem-vestido, no horário, com informações verdadeiras e escritas corretamente (isso nem deveria ser uma dica!) não vão ajudar esse candidato a se sobressair no processo seletivo.
Ok, isso não quer dizer que não são dicas importantes, porém não são suficientes para de fato ajudar.
Então vamos aprofundar um pouco mais nas orientações.
Se você está à procura de um trabalho, você tem muito a fazer. Procurar trabalho dá trabalho! Você precisa realmente se dedicar para garantir uma boa participação nos processos seletivos. Por isso selecionamos algumas orientações:
1. Você compreendeu o que a vaga solicita? Quais são os requisitos? – isso implica ler com atenção os detalhes da vaga. As informações a respeito da empresa, das atividades que serão executadas, dos requisitos mínimos solicitados, dos aspectos que podem desempatar a escolha entre você e outro candidato. Ler com atenção sobre o que a vaga significa poder avaliar com consistência se ela está em linha com seus objetivos, mas também evita frustrações e perda de tempo.
2. Você realmente tem interesse nessa posição? – reflita se você está disposto a trabalhar nas condições oferecidas. Exceto para as situações extremas, quando estamos no limite da sobrevivência, devemos escolher, sim, onde gostaríamos de trabalhar. Ao longo da minha carreira, já observei o equívoco de nós, RH e Gestores, valorizarmos mais aquele que “precisa” trabalhar em detrimento daquele que “gosta” de verdade daquilo que faz. Quando você está em uma empresa apenas porque precisa, qualquer outra oferta que melhore minimamente sua condição atual será aceita. Ou seja, você estará com sua atenção constante ao mercado e entregando apenas aquilo que lhe é solicitado na maioria das vezes, faltando sempre o “plus” que os apaixonados pelo que fazem entregam em 100% em suas atividades.
3. Você tem os requisitos para se candidatar? Este ponto aqui está diretamente relacionado à questão emocional também. Temos visto dezenas de pessoas frustradas nas redes, enviando seus currículos e sem retorno. Sim, estamos, como sempre, com um alto índice de desemprego e é verdade que não temos oportunidade para todos, mas enviar um currículo para uma vaga para a qual você não tem os requisitos só aumenta a sua frustração! Aqui cabe uma orientação mais interessante que é a seguinte: o recrutador não vai aproveitar seu currículo que não atende a vaga específica que foi divulgada. Os recrutadores estão focados na vaga que estão trabalhando e vale ressaltar que os recrutadores não têm um “banco de currículos” próprio. A cada vaga divulgada, inicia-se a busca dos candidatos que atendam especificamente aos requisitos da vaga em questão. Os recrutadores irão buscar os candidatos na Rede ou colocarão anúncios solicitando inscrições. Outro ponto importante é que, hoje em dia, esse primeiro filtro geralmente é feito por um robô. Ou seja, se você não preencher os requisitos mínimos, seu currículo não será selecionado e não será direcionado automaticamente para nenhuma outra vaga. Esse ponto é importante para evitar que você crie falsas expectativas com relação à distribuição do seu currículo, imaginando que o fato de ter enviado para uma vaga vai lhe garantir uma avaliação pelo recrutador da empresa.
4. Você se preparou para a entrevista? – aqui a melhor orientação é: faça uma lista em duas colunas. Na da esquerda, escreva todos os requisitos solicitados no anúncio. Na coluna à direita, relacione o que você tem que atende aos requisitos solicitados. Faça isso para todos os itens. Desde os requisitos como escolaridade, tempo de experiência até a escolha de exemplos que demonstrem que você tem as competências comportamentais solicitadas. Por exemplo, se o anúncio pede alguém com “forte capacidade para trabalhar em equipe”, anote isso na coluna à esquerda e ao lado coloque um bom exemplo que demonstre que você tem essa competência. Relembre sua experiência profissional, tente resgatar um exemplo concreto. Anote a situação, o contexto em que se passou esse exemplo, o que você fez (observe, o recrutador quer conhecer você. Fuja das respostas “nós fizemos” nesse momento. Aponte o que de fato foi a sua contribuição) e qual foi o resultado. Esse exemplo deve estar na sua lista mental de prioridades na hora de escolher o que será respondido ao recrutador. Pode ser que a pergunta não seja diretamente sobre trabalho em equipe, mas se você já sabe que isso é importante para a empresa e você tem um bom exemplo que cabe na sua resposta, certamente irá ajudar na avaliação geral do seu perfil. Outro ponto relevante é o fato de você dedicar o tempo antes da entrevista para fazer esse exercício de lembrar os melhores exemplos a respeito de sua experiência. Afinal, quem nunca saiu de uma entrevista e se deu conta que “esqueceu” de contar algo muito importante? Lembre-se, na hora há uma certa tensão causada pela sua própria expectativa e necessidade pela oportunidade, então estar preparado pode ser a diferença em se sair bem ou mal!
5. Você tem afinidade com a cultura da empresa? – muitas dicas a respeito da cultura e dos valores da empresa estão nos textos divulgados pela própria companhia para apresentar a oportunidade ou em seus sites. Por exemplo, “Nós somos uma empresa que zela pelo meio ambiente e trabalha a favor da sustentabilidade….”. Você também compartilha desse valor? Isso é uma preocupação para você? O que você tem de exemplo do seu dia-a-dia que demonstre esse alinhamento de valor com a empresa? Faça uma lista de exemplos concretos que você tem para contar que demonstrem o que você tem de afinidade com a empresa e com a vaga em questão.
6. Sobre os itens que você não tem: o que pretende fazer? Quais são seus planos para desenvolver um ou outro ponto de desempate? Você está matriculado em curso? Já procurou literatura a respeito? Agendou um benchmarking com um amigo que domina o tema? Enfim, qual o seu plano para demonstrar que você pode adquirir essa competência com rapidez?
Para todas essas orientações certamente há exceções e cases de sucesso em situações opostas, mas ao longo dos anos no RH, podemos afirmar que as situações diferentes são as exceções. A regra é: tem mais chance aquele que está mais aderente às necessidades da organização, mas que também está de fato mais preparado para o momento em que o recrutador vai conhecê-lo.
O processo seletivo são pequenas oportunidades, às vezes não mais do que dois ou três momentos, em que o recrutador tem aproximadamente uma hora para conhecer um individuo. Bons recrutadores realizam processos que trazem assertividade nessa busca e por isso acreditamos que as melhores dicas para os candidatos são aquelas que os fazem compreender tudo que está envolvido nesse processo de comparação e escolha.
Sendo assim, processo seletivo não se trata de algo simples e ninguém irá se despontar apenas pela roupa ou postura ao se sentar na cadeira. Precisamos de muito mais que isso para conseguir apresentar de fato: quem somos, o que sabemos, o que já fizemos, o que queremos, o que ainda vamos aprender, no que acreditamos e o que nos move todos os dias!