Esse é um dos principais questionamentos que os gestores me fizeram ao longo da minha atuação como consultora de RH.

Mas a explicação não é simples, pois envolve conceitos da pasta de cargos e salários, da gestão de desempenho e da gestão de carreiras.  Além – obviamente – de ser necessário abordar o tema de desenvolvimento profissional e organizacional.

Mas, de forma bem objetiva, a primeira coisa a esclarecer é a questão do salário:

Você determina o salário a ser pago pela pessoa que irá ocupá-lo ou pelo cargo?A avaliação de cargos consiste no estabelecimento do valor relativo de cada cargo, com o objetivo de ordená-los de acordo com sua importância na empresa. É por meio desse processo que as empresas estabelecem um sistema para determinar os salários a serem pagos. Ou seja, cada cargo tem um valor. Um valor mínimo e um valor máximo.  E chamamos esse intervalo de valores de faixa salarial.

Dentro dessa faixa, remuneramos a pessoa que está exercendo a função de acordo com seu desempenho. Aqui estamos falando de gestão de desempenho, das questões relativas a mérito e das políticas que as empresas adotam para apoiar a gestão. Mas abordaremos este tema em outro post.

Mas por que não podemos exceder essa faixa? Ouvi diversas vezes os gestores argumentando com base no desempenho da pessoa para justificar levar a remuneração além do limite da faixa salarial daquele cargo. Certa vez ouvi de um Coordenador de Manutenção de em uma fábrica de bebidas: “Mas o ‘João’ é o melhor profissional que eu conheço na solda. É uma referência. Deixa os soldadores da indústria naval ‘no chinelo’!”

Naquela fábrica não tínhamos carreira em Y ou W. ‘João’ estava no topo da carreira técnica. Além desse nível havia somente a gestão, o que não era cogitado nem por ele nem pela empresa.

Estamos falando de uma indústria com mais de 14 plantas espalhadas só no Brasil e em torno de 14.000 funcionários na época. Isso quer dizer que seguir as políticas e diretrizes não era uma opção, mas sim a única opção. Faço aqui esse parágrafo para responder antecipadamente aos gestores e leitores de coração derretido por histórias de sucesso…

O fato é: eu precisava fazer esse gestor compreender a técnica.

A gestão de pessoas é feita pela liderança a partir das diretrizes do RH, mas os gestores são os responsáveis pelo sucesso de qualquer estratégia montada por nós, seja ela qual for.Isso quer dizer que a empresa entendia que o máximo que seria justo para remunerar aquele cargo era o que o profissional recebia na época.

Mas estamos falando do cargo e aqui está o “pulo do gato”: se não compreendermos quanto vale pagar por determinado conjunto de tarefas, o céu será o limite… e as injustiças também!

Para ilustrar e ajudar na compreensão, vamos imaginar que você está querendo contratar alguém para cortar a grama do seu jardim. Uma área de aproximadamente 50m2. Você ainda não conhece ninguém, está apenas pesquisando e avaliando quanto seria justo pagar por esta atividade.

Quanto você está disposto a pagar?

Só isso?

Um pouco mais, seja generoso e abra seu bolso!

Está pensando aí?

Esqueça seu orçamento agora e responda: o que você acha de triplicar o valor que pensou em pagar?

Não?!?

Está quase mudando de profissão se for tudo isso?

Então, já está se questionando se vale pagar tudo isso para este cargo?

Se sim, então você está começando a entender o porquê de termos faixas salariais nas empresas, porque enquadramos determinados cargos considerando um salário que julgamos ser o mínimo que o profissional deve receber pela função, mas também estipulamos o máximo que vale pagar pelas mesmas atividades!

Esse é o limite da remuneração do cargo, o 120% da faixa salarial adotado por algumas empresas. A partir daí você já está achando injusto contigo, que é de outra função! Provavelmente da faixa seguinte…

E observe: você decidiu o quanto pagar antes de conhecer o profissional que faria essa função para você. Ou seja, o valor de um cargo não tem nenhuma relação neste momento com quem vai ocupá-lo.

E, mesmo após colocarmos uma pessoa real para executar esta função, por melhor que ela seja, há um limite a ser pago, considerando a complexidade das atividades!

Quando fazemos este exercício colocando nosso bolso na balança da importância do que será feito, e principalmente, quando fazemos esse exercício para atividades de baixa complexidade, temos mais chance de compreender esses limites.

Ao longo dos anos em consultoria, percebi que essa abordagem simples é a mais eficiente para ajudar os gestores no entendimento desse conceito.

No workshop que ministrei recentemente, escolhemos uma história de pano de fundo que se tratava de contratar uma diarista. A partir disso, fomos colocando todas essas situações para que o grupo de gestores resolvesse passo a passo. Desde descrever as atividades, passando por avaliar o cargo, determinar a faixa salarial, recrutar os profissionais até a gestão do desempenho deles. Foi sensacional!

E começamos com um quis, usando a ferramenta online Mentimeter em que a primeira pergunta era a seguinte:

Você tem uma vaga aberta na sua equipe para contratar um profissional de TI. A vaga é para Auxiliar de TI – R$ 1.500,00. Mas o Bill Gates se candidatou! Nesse caso, você deve:

1.     Ignorar o currículo dele

2.     Olhar os outros currículos e buscar um candidato adequado

3.     Verificar qual a pretensão salarial dele e pedir um orçamento maior para fazer uma oferta para o Bill Gates próxima a pretensão dele

4.     Oferecer R$1.500,00 e ver “se cola”!

5.     Convencer os Diretores de que na verdade você precisa de um Especialista com 30 anos de experiência chamado Bill Gates ao invés de um Auxiliar

E você? Já sabe a resposta? Espero que este texto tenha te ajudado!

Publicado por

A2 Caminhos Corporativos
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Ficou curioso com a foto abaixo? Essa semana conduzimos um Workshop sobre Cargos e Salários e trouxemos um questionamento que ouvimos de muitos gestores ao longo da carreira, o tema desse texto que estamos compartilhando. Para responder a esses questionamentos, sempre utilizávamos essa brincadeira com o Bill Gates… Vale a pena a leitura! Comente se você é gestor e também passou por algo assim.